terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Meditação não é uma fuga do mundo

Meditação não é uma fuga do mundo; Não é atividade egocêntrica, isolante, porém, antes, a compreensão do mundo e seus usos. Pouco tem o mundo para oferecer, além de alimento, roupa e moradia, e do prazer e do seu conjunto de aflições.
A meditação é um movimento para fora deste mundo; pois temos de ficar fora dele. Então, o mundo tem significação e é constante a beleza do céu e da terra. Então o amor não é prazer. Daí nasce uma ação que não é resultado de tensão, de contradição, da busca de preenchimento, ou da arrogância do poder.(...)
A Verdade nunca está no passado. A verdade do passado são cinzas da memória; a memória pertence ao tempo, e nas cinzas frias de ontem não se encontra a Verdade. A Verdade é uma coisa viva, não contida na esfera do tempo.(...)

Por que você necessita de alguma teoria e por que aceita uma crença? Essa constante asserção de crença é sinal de medo — medo da vida de cada dia, medo do sofrimento, medo da morte e da total falta de significação da vida. Por conseguinte, inventa-se uma teoria, e quanto mais sutil e erudita essa teoria, mais peso tem. E após dois ou dez mil anos de propaganda, ela se torna, invariável e irracionalmente, "a verdade".
Mas, se você não aceita nenhum dogma, se vê então frente a frente com o que realmente É. Esse "o que é" é pensamento, prazer, sofrimento, e o medo da morte. Compreendendo a estrutura do seu viver diário — com sua competição, avidez, ambição e busca de poder — você verá não só o absurdo das teorias, salvadores e gurus, mas também encontrará a terminação do sofrimento, a terminação de toda a estrutura construída pelo pensamento.

A penetração e compreensão dessa estrutura é meditação. Você verá então que o mundo não é uma ilusão, mas uma terrível realidade que o homem construiu, nas relações com seus semelhantes. Isso é o que se precisa compreender e não as teorias extraídas do vedismo, com os rituais e todo o aparato da religião organizada.

Quando o homem, sem nenhum motivo, é livre de medo, inveja ou sofrimento, só então a mente está naturalmente em paz e tranquila. Pode então não só ver verdade na vida diária, de momento a momento, mas também transcender toda a percepção; por conseguinte, termina o observador e a coisa observada, cessa a dualidade.

Mas, além de tudo isso, e sem relação com essa luta, essa vaidade e esse desespero — e isto não é uma teoria — existe uma corrente sem começo nem fim; um movimento imensurável que a mente jamais pode aprender.

Ouvindo isso, senhor, você irá certamente construir uma teoria, e se você gostar dessa nova teoria, tratará de propagá-la. Mas o que se propaga nunca é a Verdade. Só existe a Verdade quando você está livre da dor, da ansiedade, da agressividade que ora lhe enche a mente e o coração. Ao perceber tudo isso e alcançar aquela benção chamada amor, você conhecerá então a verdade do que se está dizendo.

Krishnamurti em, A OUTRA MARGEM DO CAMINHO

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