Uma vez que tudo se origina na mente, sendo esta a causa raiz de toda a experiência, seja “boa” ou “ruim”, primeiro é necessário trabalhar com sua própria mente, não deixá-la se perder erraticamente. Corte o desnecessário acúmulo de complexidade e fabricações que acolhem confusões na mente. Corte o problema pela raiz, por assim dizer.
Permita-se relaxar e sentir alguma amplitude, deixando apenas a mente ser, tranquilizar-se naturalmente. Seu corpo deveria ficar parado, a fala silenciosa e a respiração como ela é, fluindo livremente. Aqui, há uma sensação de se soltar, desdobrar-se, deixar-se ser.
Com o que este estado de relaxamento se parece? Você deveria ficar como alguém depois de um dia de trabalho muito duro, exausto e pacificamente satisfeito, a mente pronta para descansar. Algo se ajeita ao nível abdominal e sentindo o descanso em seu abdômen, você começa a experimentar uma leveza. É como se você estivesse derretendo.
A mente é tão imprevisível – não há limite para a criação fantástica e sutil que surge, ou seus humores e aonde ela vai levar você. Mas você também pode experimentar um estado sonolento e semi-consciente à deriva, como se houvesse uma cobertura sobre sua cabeça – uma espécie de torpor de sonho. Este é um modo de quietude, chamado de estagnação, uma cegueira sem mente, turva.
E como você sai desse estado? Alerte-se, endireite as costas, expire o ar viciado para fora de seus pulmões e direcione sua atenção para o espaço claro a fim de trazer frescor. Se você permanecer nesse estado estagnado você não vai evoluir, por isso quando este estado surgir, limpe-o de novo e de novo. É importante desenvolver a vigilância, permanecer alerta com sensibilidade.
Assim, a consciência lúcida da meditação é o reconhecimento tanto da imobilidade como da mudança e é a clareza tranquila de permanecermos pacificamente em nossa consciência básica. Pratique isto, pois só assim realmente experienciamos a fruição e começamos a mudar.
Ver em Ação
Durante a meditação a mente de alguém, estando uniformemente estabelecida em seu próprio modo natural, é como água parada, serena, sem ondulação ou vento; e quando qualquer pensamento ou mudança surge naquela quietude, se forma como que uma onda no oceano, que desaparece nele novamente. Deixada naturalmente, dissolve-se, naturalmente. Seja qual for a turbulência da mente que irrompa – se você deixar que seja assim – ela por si própria irá extinguir-se, liberar-se; então a visão a que se chega através da meditação é que tudo o que aparece não é outra coisa senão a auto-exibição ou projeção da mente.
Ao continuar na perspectiva dessa visão nas atividades e eventos da vida cotidiana, a apreensão da percepção dualista do mundo como realidade sólida, fixa e tangível (que é a causa raiz de nossos problemas) começa a afrouxar e se dissolve. A mente é como o vento. Ela vai e vem, e através da certeza crescente nessa visão, começa-se a apreciar o humor da situação. As coisas começam a ser percebidas um pouco como irreais, e o apego e a importância que se dá aos eventos começam a parecer ridículos ou pelo menos mais leves.
Assim desenvolve-se a capacidade de dissolver a percepção, ao continuar o fluxo da consciência meditativa na vida cotidiana, vemos tudo como o jogo auto-manifesto da mente. E imediatamente após a meditação sentada, a permanência nessa consciência ajuda a fazer aquilo que você tem que fazer com calma, tranquilamente, com simplicidade e sem agitação.
Assim, em certo sentido, tudo é como um sonho, ilusório, mas mesmo assim continua-se, com bom humor fazendo as coisas. Se você estiver andando, por exemplo, sem solenidade ou auto-consciência desnecessários, alegremente caminhe em direção ao espaço aberto da verdade tal como ela é. Quando você come seja o reduto da verdade, do que é. Ao comer, alimente as negatividades e ilusões na barriga do vazio, dissolvendo-as no espaço; e quando você estiver urinando considere que todos os seus obscurecimentos e bloqueios estão sendo dissolvidos e levados.
Até o momento eu falei sobre a essência da prática resumidamente, mas é preciso perceber que enquanto continuarmos a ver o mundo de uma maneira dual, até que estejamos realmente livres do apego e da negatividade e tenhamos dissolvido todas as nossas percepções exteriores na pureza da natureza vazia da mente, ainda estaremos presos ao mundo relativo de “bom” e “ruim”, “ações positivas e negativas”; devemos respeitar essas leis e estar conscientes e responsáveis por nossas ações.
Pós-Meditação
Após a meditação sentada formal continue essa percepção luminosa e ampla nas atividades cotidianas, em tudo, e gradualmente a consciência será reforçada e a confiança interna irá crescer.
Levante-se com calma da meditação, não pule imediatamente ou com pressa, mas seja qual for sua atividade, preserve um leve sentimento de dignidade e equilíbrio e faça o que você precisar fazer com tranquilidade e relaxamento da mente e corpo. Mantenha a sua consciência centrada luminosamente e não permita que sua atenção se distraia. Mantenha esse encontro da atenção plena e consciência, apenas siga o fluxo.
Ao caminhar, sentar, comer ou dormir, tenha um sentido de tranquilidade e presença da mente. Em relação a outras pessoas seja honesto, gentil e simples; geralmente seja agradável em seus modos e não se deixe arrastar por conversas, pontos de vista conflitantes e fofocas.
O que quer que você faça, de fato, faça de acordo com o Dharma, que é a melhor maneira de aquietar a mente e subjugar negatividades.
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